Número total de visualizações de páginas

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Existe um A.C e um D.C, e não é de Cristo que falo

Em tempos remotos, longínquos, numa historia recente, perdida nas memórias de cada um de nós, era uma vida que passava e nem dávamos por ela, era uma correria entres duches matinais, um despachateeee, todo o santo dia, que eu tenho que me maquilhar, depois de estar tudo pronto e bonitinhos para sair, era mais uma "Mas o que foi agora?" ou "Tens noção que entras às 8.15 e estamos atrasados? e tu ainda estas por te calçar", " Importas-te de vestir o casaco, agarrar a tua mochila que o Gui está a nossa espera", o Gui é o meu sobrinho que levo ao liceu.
Nunca pensei ter saudades de acordar e ainda com olho meio fechado começar logo a ouvir um tal Pedro Teixeira da Mota, o puto até tem graça , mas deusamlibre logo pela fresca, tipo as 7h00?? Era de querer ficar em posição fetal, a chorar ...
As filas de transito não, disto não tenho saudades, o chegar ao trabalho, aquele piqueno ritual de ir fazer o meu chá, os meus almoços animados com os colegas, aquele ranger de dentes porque é segunda feira, ou o vernáculo que sai à velocidade do som, porque começou a chover e estamos de saia e sapato salto alto de nobuck e não com uma galocha. Após aquelas horas que nunca mais passavam, o chegar a casa ir correr o ouvir o relato diário e as aventuras do pequeno estafermo.
E ás sextas, as urras ao dia de soltar a franga, dia em que raramente cozinhava, este era aquele dia em que saía com os amigos, íamos comer algo, beber umas cervejas ao musa, ou aterrávamos o rabo no ferroviário, ás vezes íamos dançar à Primorosa.
Tudo isto faz parte dos livros de memórias, representam tempos áureos de uma sociedade que não dormia, memórias envoltas num nevoeiro, com cheiro bolorento dos alfarrabistas, vulgo no mês passado, mas neste relógio orgânico do corona parece ter séculos. Isto foi a era glamourosa do A.C
abreviatura simplificada para o Antes do Corona

O que temos agora?
Um dia após dia, em que após o banho é indiferente se se veste uma camisola de malha ou uma  swearter, em que estás de pantufas todo o santo dia, eu não, porra há limites, em que entre um telefonema de trabalho e outro limpamos vidros, olho de lado e reviro os olhos à criatura que se passeia de pijama pela casa.
Dei por mim após o duche a encher a máquina com roupa para lavar, e a pensar tenho de passar aquelas camisas, juro que eram só 3, 3 camisas e eu a pensar tenho de passar aquilo, para quê mulher?? O guarda fato está cheio de camisas passadas, tu detestas passar a ferro, e aqui odeias passar camisas... como vêem isto é demência, e todas as nossas prioridades estão trocadas.
Agora faço almoços, jantares e até aguento na fila do mini mercado, deixou de ser importante se estou ou não maquilhada, o importante é conseguir comprar presunto.
É toda uma logística do demónio, cada vez que saio para ir as compras (relembro que faço compras para duas casas) calço os sapatos contaminados, fora de casa, ele é tapar o cabelo, pôr mascara nas ventas, óculos escuros, convém dar aquele ar chiquerrimo, ele é luvas, só falta vestir um escafandro e estamos prontos para enfrentar o vírus filho da mãe, faço as compras, levo a casa da sogra, nem entro, é um olá ao longe.

Venho para casa e aqui começa uma verdadeira operação fabril, ele é tirar os sapatos na rua, borrifar com álcool, deixar o saco com as compras dentro de uma caixa estrategicamente colocada pelo Miguel, despir a roupa toda na rua, isto é zona comum do andar, ficam os meus NB  casaco e calças, sim, fico em cueca mas salto rapidamente para o meu hall de entrada, depois o vizinho do esquerdo já tem 75 anos e a vizinha do direito está  na casa dos 74, não há perigo algum de crescimento de algo estranho,  o resto da roupa é tirado dentro de casa e  vai tudo para lavar, ala para a banheira novamente, lava, esfrega, volta a lavar a esfregar ele é champô, sabão azul e branco, mascara do cabelo, isto é dar tudo na morte do bicho, que após o duche o cabrão do bicho se tivesse em algum fio de cabelo agora jaz no ralo.
Enquanto isto já o Visconde Miguel está a limpar as compras todas com álcool, antes de as guardar nos respectivos sítios, passo pelo covil do miúdo e digo olá obtenho como resposta "já tomaste banho?" isto é de revirar os olhos até ao coxis mais perto, neste caso o meu....
As reuniões de trabalho são outra aventura, ora a vista é para um quadro ou para a porta, acho vou desenhar um unicórnio cheio de purpurinas  na porta na próxima, que isto tem de ser animado...

Isto é só uma pontinha do véu do DC, vulgo Depois do Covid
Aguardo loucamente pelo dia de soltura, acho que vai ser uma algo surreal, estou capaz de dizer que era miúda para subir ao topo do Marques de Pombal e limpar-lhe as narinas ... Mas acho que vou simplesmente molhar os pés no mar e comer leitão A Tocha.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Isto nem para coser meias esta bom...

A pessoa tenta colocar uma linha na agulha, e já não passa sem por os óculos, e pensa porra, não esta mesmo de feição. Sendo assim vamos lá ...