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quarta-feira, 1 de abril de 2020

O pecado da gula , está trancado na minha dispensa em isolamento forçado

Isto de estar em isolamento social, em plena época de quaresma, está a tornar-se uma tarefa inglória, uma verdadeira luta de titãs, em que neste momento a renúncia quaresmal está a levar uma verdadeira coça e não vejo forma de isto abrandar.
Ora os ensinamentos dizem que que existem 7 pecados, aos quais nunca, jamais em tempo algum te deves aproximar :
Soberba ❌
Luxuria❌
Ira❌
Inveja❌
Preguiça❌
Avareza❌
Gula✅✅✅✅

Aqui confesso eu a Deus todo poderoso e a vós irmãos que eu pequei e por minha culpa, minha tão grande culpa... que usei e abusei do avental e toca de enfiar as mãos na massa...

Olhando a realidade de um confinamento forçado, o que temos nós? hum? Trabalho e um big brother diário. Ora, esmiuçando bem a situação em tempos ditos antigos e remotos, vulgo há um mês atrás, eu saía para trabalhar, o pequeno estafermo ia para o liceu e sim levava comida, que a criança é chique e detesta a comida da cantina, então toca de pôr a mãe a fazer comida caseira (não sei como se safa nos acampamentos dos escuteiros, acho que qualquer massa com atum sabe a bife wellington), óbvio que cozinhava, mas confesso que não era atacada por desejos. Nestes tempos estranhos em que se confunde o pequeno escritório montado na sala, com as conference calls nas cozinhas, tendo como companhia os tachos, porque tenho um a ter video-conferencias, outro na tele escola, perco o olhar pelas prateleiras e rapidamente estou com um olho nos ingredientes e outro nos processos, muito me espanta como é que no meio de uma questão eu ainda não soltei um " ah porra são 4 ovos e 100 de açúcar", não percam fé minha gente, isto com tempo chega lá e aí sim será o meu fim...
Com o aproximar da Páscoa a coisa tende a ficar estranha, este ano não vamos a Espanha com os pagões, alcunha carinhosa dos meus amigos, não vamos ter o cabrito na mesa, o folar, o ninho de ovos, a mesa cheia de família à volta, este ano não vai haver via sacra nas ruas, mas antevejo uma via sacra dura em termos de dieta e colesterol aqui deste corpinho.
Vai dai, resolvi dar largas à imaginação e fazer uma Crumble de maçã, ficou em falta a bola de gelado de nata em tempos de covid, não se pode ter tudo, mas o sabor estava lá e caramba, quase que verti uma lágrima.
Não contente com isto, estava com uma vontade de comer favas, isto chega a primavera e as favas é já uma tradição, ficou a faltar a carne de porco mas todo sabor estava nas bichas, rjinhas como gosto, a farinheira era horrível, como digo o sabor estava lá e sem poder ir ao meu talho tive que me contentar com o que tinha à mão, aposto que a Milocas do meu coração onde quer que esteja esboçou um sorriso.
Ora, como podem ver é toda uma renuncia quaresmal que vai por agua abaixo em direcção ao rio Tejo mesmo aqui à porta, acho que isto nem indo de joelhos até Santiago Compostela me safa.... melhores dias virão e Deus, nosso senhor, vai ter de me fazer uma moratória.
Entretanto, a minha casa de banho também não ajuda, já não basta uma pessoa ter de atender o telefone na dita, tenho a minha a cheirar a croissant  frescos várias horas por dia,  nada como ter uma pastelaria com fabrico próprio mesmo à minha beira, é todo um exercício matinal a tentar adivinhar de é brioche ou francês, isto consome-me.
Não feliz com esta parafernália de gordices, aqui a vossa amiga resolveu dar tudo nos Petit Gateau do demónio, é realmente um doce que gosto muito, aquele piqueno bolo de chocolate, em que ao tocar suavemente se vai abrindo para nós, como se de um sorriso se tratasse e escorre aquele chocolate por cima do morango estrategicamente colocado no prato. Não, meus amores, não estou a descrever nenhuma cena de um filme erótico, se bem que a sensação de cada colher é basicamente orgásmica.
Como podem ver se isto não é  património da UNESCO, então andam todos errados, todo este bolinho transborda elegância e charme. Juro que senti umas piquenas borboletas no meu estômago, quando estes meninos saíram do forno, assim tão lindinhos, prontos a serem comidos. Foram feitos de raiz, e foi a primeira vez que os fiz e como saíram tão bem, isto  sim é  dar tudo em ganhar uma ancas de luxo e recuperar as minhas bochechas, entretanto perdidas no meio de alguma limpeza diária.
Das duas uma, o filho da mãe do corona vai à vidinha dele, lá nos quintos dos infernos ou eu termino este isolamento pronta par abrir a"Chéz kiki, doces e afins"
Perante toda esta descrição de pandemónio em forma de gula, tranquei o próprio do pecado na dispensa numa quarentena, forçada que vai ter mais dias que a própria quaresma.





Isto nem para coser meias esta bom...

A pessoa tenta colocar uma linha na agulha, e já não passa sem por os óculos, e pensa porra, não esta mesmo de feição. Sendo assim vamos lá ...