Há uns anos atras , escrevi uma carta a minha avó, entre tantas que lhe escrevia, mas esta foi a ultima
Quis o destino que todas essas cartas retornassem, quando isso acontece sabes logo que um elo, (e que elo) partiu na direção de algo mais profundo. Esta carta que vou Transcrever aqui demonstra bem como ela era amada , acarinhada por todos nós, a nossa sargento mor, como lhe chamada o meu primo Miguel, ou a nossa Milocas como carinhosamente era chamada pela Barbara, ou apenas Vó e até capitã de mar alto como o Ricardo e a Clara lhe chamavam. A verdade é que nas ferias chegávamos a ser 9 netos, debaixo daquelas asas e com idades tão diferente o Miguel tem uma diferença de idade em relação a minha de 14 anos,, por isso podem imaginar a loucura que eram aquelas ferias de verão em S.Pedro de Moel , S.Martinho do Porto ( não posso deixar de sorrir cada vez que me lembro daquelas tardes de praia na baia de S. Martinho, épico)
Maria Emília Marques Cruel de Brito, era uma mulher linda( até com os seus 92 anos), uma avó extremosa, alegre divertida, sempre assertiva, e a ela dedico estas letras onde reproduzo a carta que lhe escrevi.
"Contigo aprendo a gostar de panquecas, eram divinas , víamos como elas voavam com magia e caiam graciosamente na frigideira.
Contigo aprendemos a jogar carport, ficamos 2 horas naquele jogo de cartas ou mesmo o Scrabble. Só tu conseguias sentar todos a tua volta a jogar bingo com feijões.
Aqueles pequenos almoços que fazíamos na Nova Lisboa, ou mesmo na Pastelaria Biarritz, onde vias os patos no laguinho, era uma aventura para nós, as vizinhas a elogiar os meninos da Sra. Dona Emília, e nós a fazer caretas por trás, fingias que não vias
Contigo sabíamos da "bruxa do castelo, mas eras tu que nos protegias da mesma, nas noites frias e escuras de Leiria.
Contigo as "Taeijas"(cerejas)tinham outro sabor, contigo sabíamos que " O que arde cura o que aperta segura" e era assim que nos saravas os joelhos esfolados, a alma ferida após as quedas das bicicletas.
Comíamos "ovo Têtê" com arroz e salchichas, que preferíamos á acorda do avó, nunca saímos de casa sem uma surpresa, tinhas sempre um chocolate, um rebuçado, umas bolachas, aquilo para nós era ouro.
O sorriso era o teu emblema com ele dizias tudo, com ele iluminavas a noite mais escura.
A arte com que nos sentavas todos a mesa e punhas em ordem toda a desordem que reinava entre gargalhas e conversas cruzadas de jovens adulto e adolescentes, a forma como dizias para colocar o guardanapo no colo, ou olhavas para mim e dizias "Kikas, para de atazanar o teu primo, e come" ou "Kikokas, veste uma vestido deixa de ser maria rapaz" e eu ria (tenho saudades da forma como passavas a mão pelo meu cabelo e sorrias)
Nunca vou esquece a forma como dizias "nunca deixes de gargalhar, essa tua alegria é única espontânea, minha kiki, tu enches a nossa sala com o tua alegria" , sabes continuo assim alegre e a recordar as nossa noites em família a lareira
Se deste o ultimo sorriso há um ano? fisicamente talvez, mas estas sempre junto de nós, a sorrir e ele a iluminar, as nossas ruas mais escuras, os dias mais tristes, as alturas mais complicadas, com ele continuamos a caminhar dia a dia e a ensinar os nosso que também são teus, a importância do teu sorriso a importância do teu da tua magia
Sempre que regresso a S. Martinho faço questão de pisar aquela areia, como se tivesses a caminhar ao meu lado
O teu sorriso perdura para sempre Vó
Tua Kiki"
(14 anos tenho saudades)