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terça-feira, 28 de abril de 2020

Para onde vais tu zé meia?

Algo que aflige centenas, quiçá milhares de pessoas em todo mundo é onde fica, afinal, o mundo encantado e mágico das meias?
Tudo me leva a crer que é um mundo cheio de arco íris, tem todo o ar de ter unicórnios cor de rosa, jardins cheios de malmequer, uma piscina e arrisco um olho em como tem pequenas jaulas onde tem presas máquinas de lavar roupa.

Este é um assunto relevante para a sociedade dos tempos modernos, pois a quantidade de meias sem o seu par é algo que me comove, se não vejamos, o que é um pé sem o outro pé? Ou uma mão sem a outra? Com as meias é igual, sem o par ficam tristes, isoladas, quiçá divorciadas, sem o brilho que as caracteriza.
Muitas acabam os seus dias no lixo, parece que já estou a ver os ganeses a celebrar o fim delas com musicas alegres relembrando a boa vida que tinham nos nossos pés.

Dá-se o caso de as podermos efectivamente juntar a outro par, no fundo estão amantizar-se as gajas, nem choram o par perdido, nada, vêem outro igual e pumba fazem logo a já tão tradicional bolinha do acasalamento entre meias e gaveta com elas, nem quero pensar o que ali vai dentro, a avaliar pelo mundo humano deve um corta no piugo do demónio.

Elas, as meias, quando entram dentro da máquina é sempre uma incógnita, pois nunca sabemos o que vai acontecer, entram 5 pares, 10 piuguitos, a probabilidade de saírem de lá 9 ou mesmo 7 meias é de 95%, ora isto significa que quando enfiamos as meias à bruta, devíamos desde logo fazer uma despedida pois está visto que esta roleta russa vai acontecer, só não sabemos quem vai ser a contemplada da lavagem.
Era menina para fazer um lanche de despedida, ou porque não uma aposta qual será a meia que vai de vela?
Será a dos ananases ? palmeiras? vamos apostar as pastilhas Skip nas chaleiras ou nos táxis? (sim a minha rapaziada usa meias com bonecos, mesmo o que anda de fato, têm de ser fortes, sei que é uma dor muito grande, mas é lidar porque fica muito giro, faz sempre um pé bonito. Sabem lá o que é traçar uma perna e dar de caras com uma meia com pacotes de leite? É toda uma alegria no mundo das reuniões.


Desta vez desapareceu a meia do Mickey, chora triste sem o seu companheiro, não deixa ninguém indiferente, nem tão pouco descansado. Já lhe dei a entender que vai aparecer, não sei é quando e para aproveitar esta oportunidade para por a leitura em dia.
Não me bastava isto, ainda tenho o Miguel a perguntar pela do Mickey
e vai daí perante tanto desespero organizei uma busca pela maldita meia, mas aposto que se fartou da outra e foi em busca da aventura, a magana.
Estou também a pensar organizar um crowdfunding para arranjar uma expedição ao fabuloso mundo das meias a que dei o nome de:

Onde vais tu Zé Meia?




domingo, 26 de abril de 2020

Onde está o Cravo do 46?

46 anos celebrados de forma peculiar ou diferente,ou aquilo que queiram chamar, a sentir aquele nó na garganta, mas foi celebrado.
Foi celebrado com a mesma emoção, arrisco  o dedo grande do pé ao dizer que este ano teve mais emoção.
Não houve a já tradicional corrida do 25 Abril, com partida do Quartel da Pontinha, ao som da senha de Paulo de Carvalho, chegada ao Rossio ao som da Grândola, não houve as mines no final, nem os pasteis de nata, sim somos pessoas estranhas que além do correr de cravo enfiado na meias, no final damos tudo no reforço muscular enfardando pasteis de nata quentinhos na Manteigueira empurrado com nines, deitando abaixo todo o esforço feito ao longo de 11,5 km para perder as calorias, bem no fundo no fundo gostamos da nossa piquena banha.

Não houve o desfile pela avenida, o ruído das conversas cruzadas, dos abraços dados.
Não houve o Cravo 46, o símbolo de uma revolução única, onde a coragem de uns devolveu a liberdade tão desejada.
 Essa liberdade que hoje sentimos falta, não nos foi tirada apenas a confinamos de forma a não a contaminarmos. Nunca o celebrar Abril foi tão importante, para que os mais novos possam continuar aquilo que os avós deles lutaram (se julgam que vou falar de politica agora esqueçam, eles lá nós aqui, cada um com o seu papel na sociedade e todos bem cientes da importância de celebrar), para que muitos saibam o valor da mesma, para que outros tantos não julguem que ter tudo é um dado adquirido, não é, e este 25 Abril em tempos tão diferentes veio mostrar-nos muito isso.

Este 25 Abril foi celebrado de forma intensa, começou logo à meia noite no directo do Bruno Nogueira com o Vhils, foi de embargar a voz, tal foi a beleza de ver a cara do Zeca Afonso a ser esculpida na parede da sua casa, com o martelo pneumático, ao som do Grândola Vila Morena, foi de cortar a respiração, ficar sem fôlego, de lágrimas nos olhos, arrepiada até as nossas entranhas mais profundas, sejam elas onde forem..
Depois o pequeno estafermo juntou-se ao pai na janela a cantar em plenos pulmões "Em cada esquina um amigo, em cada gosto igualdade" facto único que nos ficará marcado para sempre.
Eu estava a tratar da sopa, quando o relógio bateu as 15 horas descascava uma batata doce, quem nunca descascou batatas ao som do Grândola que atire o primeiro Cravo. Mas cantei, sei a musica de cor, sempre adorei as musicas do Zeca e 46 anos depois continuo a emocionar-me ao som do Grândola. De faca na mão batata da outra ouvia o som das cantorias, enquanto cantava
"Grândola Vila Morena
Terra da fraternidade
O Povo é quem mais ordena
Dentro de ti ó cidade"
e caíram as lágrimas, então mas a pessoa agora é isto, uma emoção, raios parta mais às cebolas que jaziam no tacho.

Então e o Cravo 46? Como é que se celebra tão importante data sem o 46, não fui ao mercado, não comprei, onde ia eu desencantar o símbolo de Liberdade? Tomei a liberdade de criar um com todo o respeito que tamanha flor me merece, apesar do jeitinho ser nulo, até acho que os astros ajudaram e não ficou assim tão mau, mas Jamais o Cravo 46 não podia faltar em casa de alguém que é orgulhosamente filha de Abril.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Nasceu um irmão Castro em cada gémeo

O Covid  lá chegou até ao rectângulo à beira mar plantado, e com ele trouxe as padeiras de Aljubarrota que temos dentro de nós, tal é quantidade de pão que começou a invadir as redes sociais e a entrar pelas narinas adentro aquele cheiro de pão quente. Chupem nossos hermanos, a seguir Olivença vai voltar a ser nossa, que essa merda das dinastias dos Filipes foi coisa que sempre nos ficou entalada. Bem conseguiram limpar a face com a estância de Ski na Sierra Nevada, o que faz com que fiquem com Badajoz caso contrario também ia no embalo de Olivença.

Além de padeiras, agora com a tele-escola aparece tudo o que é Camões, Alexandres Herculanos ou Vitorinos Nemésios, quando na realidade não passam de uns Bocages de esgoto ou  Gil Vicentes desta vida com Autos da Barca da Conice.

Portanto o Covid chegou aqui, parou, olhou para a esquerda e para a direita (é um virus mas não é burro) e não quer de todo levar com uma trotinete desgovernada ou motoreta da uber eats pelas fuças adentro e pensou: "ahh, um país virado ao mar, com sol, quilómetros de praia, cheio de boazonas e bonzões com a mania que tudo sabem, é mesmo aqui  que vou montar campo!".
Pumbas e que que aconteceu migas?? Quase que nos dá cabo da praia, das férias. 
É assim, tiram o Agosto a este povo e vos garanto que não é só Espanha que sofre. Isto é gente que em Maio começa a dar tudo no bronze e no caracol, que ataca tudo o que é marisqueira e tasca naquelas noite loucas de calor.
E os nossos estudantes, aquela malta que só tem aquele trapinho preto, chamada traje académico, pois andam com aquilo vestido de segunda a domingo (uns pobrezinhos), como é que vão passar sem o seu coma alcoólico da queima? Ah, pois disto ninguém se lembra, estou deveras angustiada com esta situação.

Se isto já não era para correr com o Covid à padeirada como corremos com os espanhóis do país? O cancelamento da queima ou as restrições do Agosto é motivo mais que suficiente para cravar o animal de chumbo.

Pior que tudo isto, surgem assim a brotar das pedras da calçada os irmãos Castro,  surgem dos glúteos, dos ligamentos Patelar, ou dos gémeos destes assitomáticos em isolamento social... agora é vídeos de tabata, ioga, ora pulas, ora fazes flexões, ele é agachamentos que até me salta um ventrículo esquerdo, ora a seguir já estas de joelhos (calma, agarrem essa vossa mente perversa confinada e leiam até ao fim), no chão pronta para fazer a prancha, e não, não é a de bodyboard infelizmente, as praias estão fechadas, é mesmo aquele pequeno exercício de 10 micro-segundos onde me sai o estômago ainda com o suco gástrico a pingar...
Depois é dar tudo nos braços com os pesos, só penso com todos os santos, "não vazes uma vista melher, nem deixes cair 8 kg em cima dos deditos dos pés, que isto do bicho vai passar e tu tens uma prova para preparar"

No meio disto tudo, há alguém que teima em ter aulas de pijama, até reviro os olhinhos, a internet da NOS não colabora, a roupa continua a ter de ser passada, existe sempre um mundo de roupa para pôr na máquina, almoços, jantares e, não contente com isto, fiz encomendas no ikea, como tinha poucas coisas para me entreter, resolvi que montar móveis e estantes era na boa..

Este hashtag do #ficaemcasa está a ficar dramática, ao nível da minha pessoa.





quinta-feira, 16 de abril de 2020

E vão mais 15...

No ano da graça 2020, a 16 Abril, El Don Marcelo renova o estado de emergência por mais 15  dias.
Que significa tudo isto?
O fim total da minha sanidade mental, sim eu sei que é para o nosso bem, sim eu sei que é necessário, mas dá para me deixarem resmungar?

O facto do nosso pequeno estafermo nos levar a loucura, uma vez que este miúdo esta madrugada andava ás 3h30 da manhã na cozinha a comer bolachas shortcake. Vou desenhar um boneco gordo e colocar na porta da despesa a dizer "vais para a cama oh gordo".
Mais 15 dias em que faço almoços, jantares, todos os dias
Mais 15 dias em que o Visconde vai fazer pão, bem nem tudo é mau no meio disto
Mais 15 dias , que vão ser um pouco mais, porque não existe previsão para nós voltarmos, uma vez que entre a farinha, um tacho ou outro conseguimos trabalhar.
E já nem falo das morcelas de arroz e do leitão, que não me quero repetir.

São mais 15 dia sem poder ter o meu cãozinho, algo que quero muito, mas vai ter de esperar mais um pouco. Bem, hoje recebi outra panela, nem tudo é mau. Não há cão, mas há panelas novas, como podem ver isto anda sempre a volta do mesmo - fogão, logo comida

Por outro lado vou ter pena de se acabarem as video-chamadas com a minha sogra onde só lhe vejo um olho, ou só o cabelo, ou o quadro que esta na parede, quem nunca.
Acho que vou manter essa forma de comunicação.

 Acaba por ser um pouco cansativo estas viagens diárias para o local de trabalho, sair de manhã cedo do quarto, meter a primeira e virar à esquerda em direcção ao WC, estacionar, voltar a ligar e arrancar em direção à cozinha, ai após a primeira, chegamos à quarta rapidamente, pois é sempre a direito e já no final, chegado ao hall, viras à direita e entras na cozinha, onde tomamos o pequeno almoço, para voltar a fazer poucos metros virando à esquerda e chegando à sala , vulgarmente conhecida como escritório, é toda uma canseira logo pela manhã.

São uns 15 dias onde adiamos um pouco mais a vida, onde adiamos um pouco mais os planos e por isso estamos todos um pouco fartos disto.
Je suis farta disto

Por outro lado, estou muito ansiosa para assistir ás pequenas maravilhas das máscaras a serem usadas diariamente, estou muito curiosa para ver como é que o meu tugão vai reagir ao uso da máscara no dia a dia ... para mim que corro vai ser magnifico, ver toda uma comunidade runner nas provas de máscara a rasgar o alcatrão, parece que já estou a ver os sacos de oferta, uma banana, uma máscara em lugar do tão conhecido Buff. Quem conhece esta comunidade rara sabe que isto tem tudo para dar merda.

Mas enquanto aguardamos mais um pouco, aqui continuamos em casa a aprender como nos vamos aturar mais um pouco, aprender a cultivar a calma para não enfiar uma chapada das fuças do mais novo e trancar o mais velho algures na casa.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Cativei a Pascoa Deusmalibre se cativo o Agosto

E assim do nada já passou um mês, um mês de isolamento, um mês enfiada em casa em teletrabalho, um mês em que só falo com os amigos por video chamada, um mês em que só saio não para ver o padeiro, porque esse agora está cá em casa, mas para fazer compras rápidas e a tentar acertar em horas vazias, sempre a fintar o próprio do bicho e as pessoas no geral. No fundo foi um mês estranho, sem almoços de família.

Assim num mês festejei os 70 anos da minha mãe por video chamada, chorei o desaparecimento de uma pessoa muito querida por telefone, dei tudo na arte dos chegar ao verão Bem Boa, agarrada ao avental enfrentei o forno em modo de doçarias, dei por mim a comer tostas com Nutela à 1 da manhã enquanto vejo vídeos do demónio onde seres têm badalos maiores que os bois cobridores enviados em conversas nas redes com amigos (raios ta partam Ricky), descobri que afinal o homem até se ajeita na arte do pão e só não o vejo com um barrete de padeiro, porque aquela cabeça, minha nossa senhora nem o XXL , é muita sabedoria junta, dá nisto... 

E assim chegamos a Páscoa, aquela altura do folar doce, (o trasmontando com aquele sabor azeite, não me venham com folares de ovos e coises, isso é só para vos encher peles e pelo que tenho visto isso é coisa que nesta altura têm mais) bola de carne, cabrito assado a mesa cheia, os risos, as conversas cruzadas, os pais, nós portanto.. vá eu, a querer montar o modelos que saem nos ovos da kinder (sim gosto, não me julguem), a via sacra sacra pelas ruas, a própria vigília pascal...
Este ano Cativei a desgraçada da Páscoa, se o nosso Ronaldo das finanças pode cativar tudo e todos , raios se eu não posso cativar a Páscoa. E assim foi, almoço normal sem grades alaridos, houve risos, mas isso há sempre, comemos, bebemos, não houve ovinhos da Páscoa, nada, em 2021 logo se retoma esta festa, este ano não estava pelos ajustes.

Cativei a Pascoa e Pascoela, mas caramba não vou cativar o agosto, nem a praia, alguém que diga ao bicho para aparecer, pronto já brincou, nós já percebemos que tem de haver  mudanças radicais, mas com o verão não se pode brincar, aqui a pessoa necessita muito de vitamina D, de estar deitada tipo frango no espeto ao sol, ora roda para a direita ora roda para a esquerda, fazendo pequenos intervalos para ir dar um mergulho e voltar à vida estafada de estar deitada sobre a areia fina das nossas praias. É toda uma nação virada ao sol, onde a nossa costa de norte a sul necessitam no nosso carinho, do nosso amor, espalhado pela areia e pela água salgada.
Parece que já estou a ver, as nossas praias engalanadas de máscaras de todas as cores e feitios, ele é máscaras que vão até à testa, outras que só tapam os lábios, outras que vão até ao umbigo,
meus queridos a grande moda este verão não vão ser bikinis, mas sim as máscaras...
"Vanessa põe já a máscara nas trombas, antes que apanhes uma bofetada"
"Carminho, como ousa tirar a sua máscara?" ou o típico tugão "Uii fazia fácil essa máscara".
Enfim, vai ser um agosto fenomenal, estou apostar todas as fichas nele, vai ser toda uma loucura, toda uma nova forma de fazer praia, sim porque na arte de inovar, meus amores, não há como os portugueses, somos a arte do improviso.

Por isso oh Covid põem-te nas galinhas desgraçado, que o agosto não nos tiras ouviste ?

sexta-feira, 10 de abril de 2020

A Quaresma esta confinada

Quinta-feira Santa, dia da última ceia, dia em que o senhor lavava os pés aos doze amigos e naquela altura andava tudo de sandálias e no deserto, aquilo devia ser só areia, mas adiante, neste dia em que estamos confinados e isolados também a nossa Quaresma está confinada.
E o que se lembra o meu estafermo? Que ia ficar giro de cabelo rapado .... hiperventilei , meus amores ceguei, já não basta o dia cinzento, a chuva, estar em casa fechada, vem este caramelo com ideias... 
Pensei "esta coisa está a afectar a mente deste miúdo".
Reparem que estamos a falar de uma pessoa que adora a sua gadelha, a cair nos olhos, e agora acorda e diz "até era giro rapar o cabelo com a máquina do pai", quase que me salta a mão em direcção aquela cara laroca, aguentei forte, quase que vi uma lágrima a sair do meu saco lacrimal e apenas disse "Queres uma laranja para o pequeno almoço ou cereais?".
Isto é que é iniciar as festividades em grande, pensei... óbvio que todo o meu cérebro era impropérios, e pensei vou esconder a maquineta. 

Não basta fazer video-chamadas com os amigos até altas horas da madrugada ou jogar F1 até as 3 da manhã on-line... era só o que me faltava eu ficar preocupada com cabelos, entretanto foi tomar duche e fazer a barba, ainda temi que fosse rapar as sobrancelhas, mas vá ficou pela barbicha de bode.

Um drama, eu estava a trabalhar e reparei que estamos na quinta-feira Santa e não tinha descongelado nada para o almoço, abençoadas pizzas e, sim a minha tinha ananás, não me agastem que hoje os cabelos do outro já me causaram quase uma taquicardia, tinha de ter um miminho. Quando me sento na mesa diz o pequeno estafermo: "ananás mãe? sabes que isto é um ultraje à comida" ora, que grande #$%&#$%, então querem lá ver que uma pessoa já não pode comer o que quer? já não pode ter um conforto no esófago, criar um bolo alimentar, apimentar a quimo, sem ter a criatura a criticar? quem te rapa esse gadelha sou eu .....



A pessoa, fica assim quase descontrolada e pensa: 
- Amanhã tenho de fazer pataniscas, que é dia santo..
Estou a ficar demente, oh bailhamedeus, este ano cancelamos a Páscoa e confinamos a Quaresma.




terça-feira, 7 de abril de 2020

Ponto de rebuçado

Chegou assim à bruta, sem aviso, não veio envolvido numa manhã de nevoeiro, nem montado num cavalo branco ou num unicórnio com uma crina em forma de arco íris.
Não o gajo, não é D. Sebastião, que esse já é pó algures em Ceuta, não é o Corona que esse já anda por aí à muito e à solta, filho de uma pata quis vir ver in loco o nosso turismo, eu sabia que tanta publicidade lá fora tinha tudo para dar merda...
Quem chegou e entrou por mim a dentro à bruta, sem pedir licença, foi o Ponto de Rebuçado, este é aquele ponto que tem de ser feito em lume brando até conseguir atingir a perfeição, pois bem aqui já passou  a perfeição, toda eu já sou nerves.
Por falar em nerves, alguém sabe se no estado de emergência devido à pandemia é permitido enfiar um bom par de tabefes no estafermo do miúdo?
Tudo isto é um teste ao limite da pessoa, se não vejamos, estamos em isolamento ah e tal podemos fazer outras coisas. Não, não podemos porque não temos tempo para nada e quando temos está na hora de ir dormir.
Depois é toda uma logística de trabalho, acreditem é um esforço sobre humano ter de partilhar escritórios improvisados, estou seriamente em pensar mudar o meu para o wc, com o cheiro a croissant que vem das condutas devido à padaria que tenho aqui em baixo, é quase como recordar aqueles tempos em que ia estudar para as esplanadas de Lisboa, nomeadamente do Helsínquia, vá podem espumar de raiva, é assim filhos não se pode ter tudo, eu estou fechada num apartamento sem jardim, mas todo o meu WC cheira a Croissant fresco acabado de sair do forno, ah pois é...
Tenho aqui um adolescente capaz de me levar a ter um ataque de nervos, tal filme icónico do Mestre Almodôvar, a diferença é que não estou de saltos altos, mas de pantufas, pantufas senhores, se isto não é o meu fim, então não sei.

É tudo mãe onde estão os meus óculos de natação, óculos? mas vais fazer o quê? Os 10 x 10 estafetas com o teu pai no poliban?
Mãe chega aqui, acabei de tocar um solo na guitarra, mãe onde está o fiambre? mãe sabes a que horas o Zé dá explicação? Ora cum catene, mas eu agora tenho de ser agente deste miúdo??
Olha o fiambre é provável que esteja dentro do frigorífico, frigorífico é esse utensílio grande que está no fundo da cozinha e tem uma porta, podes abrir  sem temer, não sai de lá o adamastor...
O dia e hora da explicação está marcada no calendário do teu email, ide ver, que esses dedos servem para mais que estarem todo o santo dia de volta da consola de jogos.

O atingir o ponto de ebulição quando ontem fui fazer palmiers, entre um email e outro lá ia vendo a coisa, de repente vai que a Internet resolveu ir ao w.c e um email importante voltou par atrás, não gravou o processo e eu já irritada tive de fazer tudo de novo, a coisa estava a dar luta e não estava dar-se, resumido os piquenos palmiers outrora lindos e estaladiços, ficaram mais negros que uma mina de carvão. Tive um ataque de raiva, meninos baixou em mim o demónio, toda eu era uma gota de raiva, Belzebu refugiou-se na rua sem máscara, deve ter pensado antes um covide pelo chifre a dentro que esta mulher em ponto de rebuçado. Foi tudo para o lixo, acho que até o pc esteve para seguir esse caminho, e fui lavar uma parede que reparei tinha uns riscos, se isto não é o principio do fim , então não sei...
No meio disto o Miguel foi fazer novos palmiers para eu ficar mais calma, não resultou, fiquem já a saber, o homem além de gestor e IT Manager, deu em padeiro, ele é pão, ele é focaccia enfim...

Não feliz com toda esta altercação, que assim de deu, e não houve uma alminha que pergunta-se "então Catarina pode ser? uns dias em casa fechadinha, sem piar?" nada, ninguém se deu a esse trabalho. Hoje de manhã, acabadainha de sentar para trabalhar tocam abusivamente nas campainhas do prédio, ouvimos portas a bater, barulho de sirenes, o Miguel vai ver à janela tipo velha, e tá o circo montado lá em baixo, ele é bombeiros, escadas magirus, ele é agentes da policia, INEM.
Diz o Miguel:
- Queira Deus queira que não tenhamos de sair daqui agora com tudo isto.
Salto logo em direcção ao quarto, arranco o pequeno estafermo da cama, digo para vestir rápido uma roupa, ouço logo "O que aconteceu? posso tomar banho?", respondo "NÃO, veste uma camisola"
Calço as sapatilhas contaminadas, envergo a máscara nas fuças e lá saio eu para a rua, para saber o que se passa. Chego ao hall do prédio e parece que entrei em zona de guerra das estrelas, os médicos do INEM pareciam acabados de sair de um cenário apocalíptico, pensei porra o bicho do demónio entrou no prédio, mas afinal tanto alarido e o agente da PSP disse só que o senhor do 1º frente estava deitado no chão, sem se conseguir levantar.
Também, raio do homem com 91 anos que nunca está sossegado em casa, anda sempre no laréu... Subo novamente no elevador sem tocar em nada, chego ao patamar do andar, e toca a despir as calças, tirar as sapatilha,  passar álcool nas solas, sossegar os demais, voltar ao quarto e vestir outras calças. Eis que reparo raios esqueci de atar o cabelo... 

Se tudo isto não é para um gajo espetar com os ossos todos mais dentadura num Spa, numas termas ou quiçá numa atol da Polinésia francesa? afim de recuperar um pouco a sanidade... e  enfiar o ponto de rebuçado no estado tão liquido mas tão liquido, que nunca mais ia querer ser caramelo.

No meio de todo este cenário tenho de ler influencers a queixarem-se de não terem tempo para elas porque têm de dar atenção aos filhos de 20 meses e a citar tudo o que é marca e agradecer, porque sem elas estavam perdidas... como me disseram as cuidadoras informais com filhos riram-se nessa altura.... de valor era a Lindor oferecer fraldas a estes cuidadores que tanto fazem  anonimamente.
Noção, senhores noção!

 

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Existe um A.C e um D.C, e não é de Cristo que falo

Em tempos remotos, longínquos, numa historia recente, perdida nas memórias de cada um de nós, era uma vida que passava e nem dávamos por ela, era uma correria entres duches matinais, um despachateeee, todo o santo dia, que eu tenho que me maquilhar, depois de estar tudo pronto e bonitinhos para sair, era mais uma "Mas o que foi agora?" ou "Tens noção que entras às 8.15 e estamos atrasados? e tu ainda estas por te calçar", " Importas-te de vestir o casaco, agarrar a tua mochila que o Gui está a nossa espera", o Gui é o meu sobrinho que levo ao liceu.
Nunca pensei ter saudades de acordar e ainda com olho meio fechado começar logo a ouvir um tal Pedro Teixeira da Mota, o puto até tem graça , mas deusamlibre logo pela fresca, tipo as 7h00?? Era de querer ficar em posição fetal, a chorar ...
As filas de transito não, disto não tenho saudades, o chegar ao trabalho, aquele piqueno ritual de ir fazer o meu chá, os meus almoços animados com os colegas, aquele ranger de dentes porque é segunda feira, ou o vernáculo que sai à velocidade do som, porque começou a chover e estamos de saia e sapato salto alto de nobuck e não com uma galocha. Após aquelas horas que nunca mais passavam, o chegar a casa ir correr o ouvir o relato diário e as aventuras do pequeno estafermo.
E ás sextas, as urras ao dia de soltar a franga, dia em que raramente cozinhava, este era aquele dia em que saía com os amigos, íamos comer algo, beber umas cervejas ao musa, ou aterrávamos o rabo no ferroviário, ás vezes íamos dançar à Primorosa.
Tudo isto faz parte dos livros de memórias, representam tempos áureos de uma sociedade que não dormia, memórias envoltas num nevoeiro, com cheiro bolorento dos alfarrabistas, vulgo no mês passado, mas neste relógio orgânico do corona parece ter séculos. Isto foi a era glamourosa do A.C
abreviatura simplificada para o Antes do Corona

O que temos agora?
Um dia após dia, em que após o banho é indiferente se se veste uma camisola de malha ou uma  swearter, em que estás de pantufas todo o santo dia, eu não, porra há limites, em que entre um telefonema de trabalho e outro limpamos vidros, olho de lado e reviro os olhos à criatura que se passeia de pijama pela casa.
Dei por mim após o duche a encher a máquina com roupa para lavar, e a pensar tenho de passar aquelas camisas, juro que eram só 3, 3 camisas e eu a pensar tenho de passar aquilo, para quê mulher?? O guarda fato está cheio de camisas passadas, tu detestas passar a ferro, e aqui odeias passar camisas... como vêem isto é demência, e todas as nossas prioridades estão trocadas.
Agora faço almoços, jantares e até aguento na fila do mini mercado, deixou de ser importante se estou ou não maquilhada, o importante é conseguir comprar presunto.
É toda uma logística do demónio, cada vez que saio para ir as compras (relembro que faço compras para duas casas) calço os sapatos contaminados, fora de casa, ele é tapar o cabelo, pôr mascara nas ventas, óculos escuros, convém dar aquele ar chiquerrimo, ele é luvas, só falta vestir um escafandro e estamos prontos para enfrentar o vírus filho da mãe, faço as compras, levo a casa da sogra, nem entro, é um olá ao longe.

Venho para casa e aqui começa uma verdadeira operação fabril, ele é tirar os sapatos na rua, borrifar com álcool, deixar o saco com as compras dentro de uma caixa estrategicamente colocada pelo Miguel, despir a roupa toda na rua, isto é zona comum do andar, ficam os meus NB  casaco e calças, sim, fico em cueca mas salto rapidamente para o meu hall de entrada, depois o vizinho do esquerdo já tem 75 anos e a vizinha do direito está  na casa dos 74, não há perigo algum de crescimento de algo estranho,  o resto da roupa é tirado dentro de casa e  vai tudo para lavar, ala para a banheira novamente, lava, esfrega, volta a lavar a esfregar ele é champô, sabão azul e branco, mascara do cabelo, isto é dar tudo na morte do bicho, que após o duche o cabrão do bicho se tivesse em algum fio de cabelo agora jaz no ralo.
Enquanto isto já o Visconde Miguel está a limpar as compras todas com álcool, antes de as guardar nos respectivos sítios, passo pelo covil do miúdo e digo olá obtenho como resposta "já tomaste banho?" isto é de revirar os olhos até ao coxis mais perto, neste caso o meu....
As reuniões de trabalho são outra aventura, ora a vista é para um quadro ou para a porta, acho vou desenhar um unicórnio cheio de purpurinas  na porta na próxima, que isto tem de ser animado...

Isto é só uma pontinha do véu do DC, vulgo Depois do Covid
Aguardo loucamente pelo dia de soltura, acho que vai ser uma algo surreal, estou capaz de dizer que era miúda para subir ao topo do Marques de Pombal e limpar-lhe as narinas ... Mas acho que vou simplesmente molhar os pés no mar e comer leitão A Tocha.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

O pecado da gula , está trancado na minha dispensa em isolamento forçado

Isto de estar em isolamento social, em plena época de quaresma, está a tornar-se uma tarefa inglória, uma verdadeira luta de titãs, em que neste momento a renúncia quaresmal está a levar uma verdadeira coça e não vejo forma de isto abrandar.
Ora os ensinamentos dizem que que existem 7 pecados, aos quais nunca, jamais em tempo algum te deves aproximar :
Soberba ❌
Luxuria❌
Ira❌
Inveja❌
Preguiça❌
Avareza❌
Gula✅✅✅✅

Aqui confesso eu a Deus todo poderoso e a vós irmãos que eu pequei e por minha culpa, minha tão grande culpa... que usei e abusei do avental e toca de enfiar as mãos na massa...

Olhando a realidade de um confinamento forçado, o que temos nós? hum? Trabalho e um big brother diário. Ora, esmiuçando bem a situação em tempos ditos antigos e remotos, vulgo há um mês atrás, eu saía para trabalhar, o pequeno estafermo ia para o liceu e sim levava comida, que a criança é chique e detesta a comida da cantina, então toca de pôr a mãe a fazer comida caseira (não sei como se safa nos acampamentos dos escuteiros, acho que qualquer massa com atum sabe a bife wellington), óbvio que cozinhava, mas confesso que não era atacada por desejos. Nestes tempos estranhos em que se confunde o pequeno escritório montado na sala, com as conference calls nas cozinhas, tendo como companhia os tachos, porque tenho um a ter video-conferencias, outro na tele escola, perco o olhar pelas prateleiras e rapidamente estou com um olho nos ingredientes e outro nos processos, muito me espanta como é que no meio de uma questão eu ainda não soltei um " ah porra são 4 ovos e 100 de açúcar", não percam fé minha gente, isto com tempo chega lá e aí sim será o meu fim...
Com o aproximar da Páscoa a coisa tende a ficar estranha, este ano não vamos a Espanha com os pagões, alcunha carinhosa dos meus amigos, não vamos ter o cabrito na mesa, o folar, o ninho de ovos, a mesa cheia de família à volta, este ano não vai haver via sacra nas ruas, mas antevejo uma via sacra dura em termos de dieta e colesterol aqui deste corpinho.
Vai dai, resolvi dar largas à imaginação e fazer uma Crumble de maçã, ficou em falta a bola de gelado de nata em tempos de covid, não se pode ter tudo, mas o sabor estava lá e caramba, quase que verti uma lágrima.
Não contente com isto, estava com uma vontade de comer favas, isto chega a primavera e as favas é já uma tradição, ficou a faltar a carne de porco mas todo sabor estava nas bichas, rjinhas como gosto, a farinheira era horrível, como digo o sabor estava lá e sem poder ir ao meu talho tive que me contentar com o que tinha à mão, aposto que a Milocas do meu coração onde quer que esteja esboçou um sorriso.
Ora, como podem ver é toda uma renuncia quaresmal que vai por agua abaixo em direcção ao rio Tejo mesmo aqui à porta, acho que isto nem indo de joelhos até Santiago Compostela me safa.... melhores dias virão e Deus, nosso senhor, vai ter de me fazer uma moratória.
Entretanto, a minha casa de banho também não ajuda, já não basta uma pessoa ter de atender o telefone na dita, tenho a minha a cheirar a croissant  frescos várias horas por dia,  nada como ter uma pastelaria com fabrico próprio mesmo à minha beira, é todo um exercício matinal a tentar adivinhar de é brioche ou francês, isto consome-me.
Não feliz com esta parafernália de gordices, aqui a vossa amiga resolveu dar tudo nos Petit Gateau do demónio, é realmente um doce que gosto muito, aquele piqueno bolo de chocolate, em que ao tocar suavemente se vai abrindo para nós, como se de um sorriso se tratasse e escorre aquele chocolate por cima do morango estrategicamente colocado no prato. Não, meus amores, não estou a descrever nenhuma cena de um filme erótico, se bem que a sensação de cada colher é basicamente orgásmica.
Como podem ver se isto não é  património da UNESCO, então andam todos errados, todo este bolinho transborda elegância e charme. Juro que senti umas piquenas borboletas no meu estômago, quando estes meninos saíram do forno, assim tão lindinhos, prontos a serem comidos. Foram feitos de raiz, e foi a primeira vez que os fiz e como saíram tão bem, isto  sim é  dar tudo em ganhar uma ancas de luxo e recuperar as minhas bochechas, entretanto perdidas no meio de alguma limpeza diária.
Das duas uma, o filho da mãe do corona vai à vidinha dele, lá nos quintos dos infernos ou eu termino este isolamento pronta par abrir a"Chéz kiki, doces e afins"
Perante toda esta descrição de pandemónio em forma de gula, tranquei o próprio do pecado na dispensa numa quarentena, forçada que vai ter mais dias que a própria quaresma.





Isto nem para coser meias esta bom...

A pessoa tenta colocar uma linha na agulha, e já não passa sem por os óculos, e pensa porra, não esta mesmo de feição. Sendo assim vamos lá ...