Sempre disse que a moda sou eu que a faço, e a verdade é que nem me
tenho saído mal, nunca gostei de andar em carneirada.
Agora que todos deliram com o vitange, já eu vos dava de bandeira com
relíquias dos meus avós.
São recordações que para muitos são o "ai korror, que feio", para
as influecers da vida, são piquenos pedaços de uma vida passageira sem luz,
porque hoje é a cueca da avó que é super bem e chique, como amanhã é uma napa
reduzida enfiada nos entre folhos.
Quem não se recorda do naperon em cima do aparador da sala? Onde pousava
elegantemente um relógio de madeira, que dava as horas sempre com um estrondoso
badalo? Ou o quadro de natureza morta, quem nunca viu um quadro com uma cesta
de fruta na parede com cores mortiças, onde predominavam os verdes escuros e
vermelhos secos não sabe o que é viver no limiar do medo.
Aqueles almoços intermináveis de família, em que a loiça era toda ela rosa,
com os motivos de charretes e árvores, a lembrar aquelas quintas inglesas, da
fábrica da loiça de Sacavém, aqueles copos de pé alto com pétalas desenhadas no
vidro. E sempre que o telefone tocava, aquele piqueno grande trambolho preto,
já sabíamos que alguém se tinha atrasado para o almoço do cozido, como assim
atrasados para almoçar cozido da avó...??? enfim tios….
Aquilo que outrora foi "fatela"(palavra muito anos 80, é assim sou
idosa), hoje está na vanguarda da moda e a preços exorbitantes. Porquê? Porque
alguém disse a esses influencers que a coisa afinal se dava mas tinha de ser
caro para ser chique, minhas riquezas as casas das nossas avós e mães são todas
elas um relicário de coisas boas, antigas e sempre actuais. Se não basta ver os
cães de loiça? Onde enfiar um canidio de loiça? Em qualquer canto do quarto
junto a uma mesinha adornado com uma Senhorinha, é óptimo para pendurar
bikinis, depois de um dia de praia ou colares.
As travessas de servir o cozido ficam bem em qualquer mesa, com tolha aos
quadrados de piquenique, que estão a ganhar mofo nas arcas das avós, mas como
influencer da vida que são, vão ao El corte Ingles compram por 70 euros e
dizem que são do mais vintage que há, made in china covid, enquanto a
velhinha toalha está impecável mesmo com quase 100 anos de existência e foi
feita numa qualquer fabrica de Barcelos com tecido 100% algodão, jaz solitária
enquanto suspira sua "cabra saloia".
Nunca reneguem as arcas que as avós tem em casa, são tesouros.
Por isso digo a moda sou eu que a faço e sempre usei as toalhas bordadas
pela minha mãe e pelas minhas tias avós, sempre gostei e usei as loiças do
Bordalo, sou doida por cestas de vime, das caldas, e da sua loiça também ,
sempre muito educativa ao nível do intelecto.
Não há nada como uma sacola de pano para ir ao mercado, se a tudo isto juntarmos
um pouco do moderno que existe temos uma junção explosiva de bom gosto com
cheirinho a boas recordações.
Esqueçam cabide de pé para pendurar roupa, são feios, frios, usem os
cães de loiça, não há nada mais fofuxo que um cão de loiça.
Diga não ao vintage saloio, a roçar a berjerice, do made in china, quando se olharmos para dentro temos o vintage mai lindo de sempre, os nossos .
Quem não
tem ide a Barcelos , às Caldas, ou a Viana, quiça Évora ou Reguengos, que lá
encontram coisas bem giraças, e deixe Vila Real Santo António para os espanhóis,
sempre tiveram péssimo gosto.
Sempre na vanguarda do bom gosto, em todos os aspectos. Excelente texto! Obrigada.
ResponderEliminarObrigada Eu
EliminarAssim num instante viajei no tempo, tal como acontece quando vou de férias para a aldeia. Nesta casa de família, recuso-me a trocar, alterar ou a desmanchar o que quer que haja em cada canto. São 100 anos de história familiar. A azeitice para alguns é para mim um legado que preservo com muito amor.
ResponderEliminarO teu texto está fantástico, mais uma vez! ;)
Muito Obrigada, pela suas palavras.
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