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quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Cães de loiça quem nunca

 Sempre disse que a moda sou eu que a faço, e a verdade é que nem me tenho saído mal, nunca gostei de andar em carneirada.

Agora que todos deliram com o vitange, já eu vos dava de bandeira com relíquias dos meus avós.

São recordações que para muitos são o "ai korror, que feio", para as influecers da vida, são piquenos pedaços de uma vida passageira sem luz, porque hoje é a cueca da avó que é super bem e chique, como amanhã é uma napa reduzida enfiada nos entre folhos.

Quem não se recorda do naperon em cima do aparador da sala? Onde pousava elegantemente um relógio de madeira, que dava as horas sempre com um estrondoso badalo? Ou o quadro de natureza morta, quem nunca viu um quadro com uma cesta de fruta na parede com cores mortiças, onde predominavam os verdes escuros e vermelhos secos não sabe o que é viver no limiar do medo.

Aqueles almoços intermináveis de família, em que a loiça era toda ela rosa, com os motivos de charretes e árvores, a lembrar aquelas quintas inglesas, da fábrica da loiça de Sacavém, aqueles copos de pé alto com pétalas desenhadas no vidro. E sempre que o telefone tocava, aquele piqueno grande trambolho preto, já sabíamos que alguém se tinha atrasado para o almoço do cozido, como assim atrasados para almoçar cozido da avó...??? enfim tios…. 

Aquilo que outrora foi "fatela"(palavra muito anos 80, é assim sou idosa), hoje está na vanguarda da moda e a preços exorbitantes. Porquê? Porque alguém disse a esses influencers que a coisa afinal se dava mas tinha de ser caro para ser chique, minhas riquezas as casas das nossas avós e mães são todas elas um relicário de coisas boas, antigas e sempre actuais. Se não basta ver os cães de loiça? Onde enfiar um canidio de loiça? Em qualquer canto do quarto junto a uma mesinha adornado com uma Senhorinha, é óptimo para pendurar bikinis, depois de um dia de praia ou colares.

As travessas de servir o cozido ficam bem em qualquer mesa, com tolha aos quadrados de piquenique, que estão a ganhar mofo nas arcas das avós, mas como influencer da vida que são, vão  ao El corte Ingles compram por 70 euros e dizem que são do mais vintage que há, made in china  covid, enquanto a velhinha toalha está impecável mesmo com quase 100 anos de existência e foi feita numa qualquer fabrica de Barcelos com tecido 100% algodão, jaz solitária enquanto suspira sua "cabra saloia".

Nunca reneguem as arcas que as avós tem em casa, são tesouros.

Por isso digo a moda sou eu que a faço e sempre usei as toalhas bordadas pela minha mãe e pelas minhas tias avós, sempre gostei e usei as loiças do Bordalo, sou doida por cestas de vime, das caldas, e da sua loiça também , sempre muito educativa ao nível do intelecto.

Não há nada como uma sacola de pano para ir ao mercado, se a tudo isto juntarmos um pouco do moderno que existe temos uma junção explosiva de bom gosto com cheirinho a boas recordações. 

Esqueçam cabide de pé para pendurar roupa, são feios, frios,  usem os cães de loiça, não há nada mais fofuxo que um cão de loiça.

Diga não ao vintage saloio, a roçar a berjerice, do made in china, quando se olharmos para dentro temos o vintage mai lindo de sempre, os nossos . 

Quem não tem ide a Barcelos , às Caldas, ou a Viana, quiça Évora ou Reguengos, que lá encontram coisas bem giraças, e deixe Vila Real Santo António para os espanhóis, sempre tiveram péssimo gosto. 




4 comentários:

  1. Sempre na vanguarda do bom gosto, em todos os aspectos. Excelente texto! Obrigada.

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  2. Assim num instante viajei no tempo, tal como acontece quando vou de férias para a aldeia. Nesta casa de família, recuso-me a trocar, alterar ou a desmanchar o que quer que haja em cada canto. São 100 anos de história familiar. A azeitice para alguns é para mim um legado que preservo com muito amor.
    O teu texto está fantástico, mais uma vez! ;)

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Isto nem para coser meias esta bom...

A pessoa tenta colocar uma linha na agulha, e já não passa sem por os óculos, e pensa porra, não esta mesmo de feição. Sendo assim vamos lá ...