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domingo, 28 de abril de 2024

50 Anos Depois do Adeus


 Quando dia 24/4/1974 as 22:20 toca a primeira senha, estava dado o mote para que hoje estivesse aqui a escrever sobre esse dia tão importante, o 25 de Abril 1974, poderemos dizer que aquele foi o primeiro  dia do resto das nossas vidas. O país era libertado da ditadura pelos capitães.




50 anos depois chegar ao Quartel do Carmo e ver todas aquelas pessoas que encheram novamente o  mítico lugar da rendição foi uma emoção, ver os Capitães de Abril de lágrimas nos olhos ao ver o mar de juventude, sim porque se havia por ali muitos dos que viverem o 25 Abril 74, muitos dos que lá estavam eram os filhos de Abril, netos e bisnetos de abril. Se naquele dia o meu pai estava junto dos militares no quartel do Carmo, 50 anos depois eu estava lá a celebrar com esses mesmo militares o meio século de liberdade que eles fizeram acontecer, o meu filho estava  com os amigos a gritar 25 abril sempre, aposto que  meu pai estava ao lado do Salgueiro Maia a sorrir e a dizer " Valeu a pena".


50 anos depois, aqui estamos a celebrar um dos dias mais importantes do nosso país, 50 anos depois a avenida de Liberdade enche-se novamente, como há muito não se via, 50 anos depois a emoção tomou conta das nossas vozes que não se calaram, cantou-se o Grândola , o Hino, E depois do Adeus, gritámos palavras de ordem com 50 anos, mas cada vez mais atuais.


Diz quem sabe que 50 anos depois éramos muitos, éramos tantos, que ficou em pé de igualdade com o 1 Maio de 74. Que éramos muitos e tantos, sem duvida, se ficou em pé de igualdade não sei, em 74 tinha 4 meses, e 50 anos depois também eu tenho 50, e o que vi foi muitos milhares, e se avenida estava repleta, as as paralelas estavam cheias às 15h00 , às 18h00 continuavam repletas de gente.


E se o largo do Carmo ficou assim perto do meio dia, às 15 horas o Marquês do Pombal encheu-se para um dos dias mais importantes de sempre, aquele  dia em que o povo voltou a sair a rua e, empunhando com orgulho o seu cravo, disse que não está a dormir, disse que está atento, disse que Abril é para Sempre, disse que não admite flick flak's à retaguarda, disse aos saudosistas das famílias tradicionais  que podem voltar para gruta. O povo saiu à rua, e que povo este de todas as orientações politicas,  credos, orientações sexuais, livres, democratas.    

De todas as vezes que desci avenida da Liberdade, esta foi sem duvida uma das mais emotivas, porque o 25 Abril é de todos, foi feito para todos, não tem dono e, por Deus, não tentem politizar o dia, porque o dia não tem partidos políticos A, B ou C, pertence a todos, tal como se viu, quem desceu avenida naquela quinta feira só tinha uma coisa em mente: Celebrar Abril. 


Ouviu-se alto e bom som na avenida o E Depois do Adeus, cantou-se a plenos pulmões, com lágrimas nos olhos, o Grândola. Cantado vezes e vezes, abraçados a completos estranhos, mas todos com o mesmo propósito não deixar esquecer este dia, porque, meus amigos, a Liberdade é um bem muito precioso, vale ouro, tem de ser regado todos os dias, tem de ser acarinhado, para que como o cravo não murche, não caia.

Não podemos dar como adquirida a Liberdade, há que lutar por ela, há que fazer caminho, porque 50 anos depois há muito caminho para fazer e, como alguém me disse, "este dia 50 anos depois foi um dia de esperança".

A prova disso mesmo foi as varias gerações que se juntaram, neste dia, como o pequeno André no alto dos seus 7 anos gritava viva a Liberdade e desceu valentemente e lentamente com os pais, o Ricardo e a Sónia, ou como o António Maria e o Francisco Maria, adolescentes que poderiam estar com os amigos numa esplanada e lá estavam com os pais Helder e Quicas, estes já são os Bisnetos de Abril, por isso há esperança sim, porque essa é a ultima a cair.

Foi acima de tudo um dia de festa entre as varias gerações, com amigos e famílias, a minha mãe com os seus 75 anos juntamente com o meus tios de 80 anos, apesar fazerem parte de uma burguesia, onde as mãos do regime lhe passavam ao lado, sempre lutaram pela liberdade em 74 e lá estavam mais um ano.



Descer avenida não foi fácil, o mar de gente e a emoção assim o ditava,  ouvir onde a onde o meu nome " kiki", virar-me e ver mais uma cara conhecida, abraçar amigos como a Maria, a Joana, a Anabela, o João Maria, a Fernanda  e juntos celebrámos. Caminhei orgulhosamente com cravos na mão, atras da Bula (chaimite) com o Miguel, a Helena o Augusto, os filhos de Abril, a nós juntaram-se o David e o Daniel , o Francisco seguia ainda mais a frente com os amigos, os netos de Abril, há esperança

Uma coisa é certa quem viveu este dia, viveu mais um dia histórico no nosso país, porque não somos um país qualquer, somos um país onde se fez uma revolução sem recurso a força, onde se fez uma revolução, onde povo na rua se juntava aos militares e gritava o "Povo está com MFA". Não foi um dia isento de tristeza,  morreu gente nesse dia, às mãos da Pide, foram as suas ultimas vitimas. Neste dia, 50 anos depois, o meu filho foi prestar homenagem as essas vitimas, ao sitio onde tombaram às mãos da Pide,  enche-me de orgulho saber que os valores estão lá.


Por ti, por ele, por nós, por mim, por todos aqueles que não puderam descer Avenida, por todos aqueles que acreditam que Abril continua vivo e cheio de vigor o muito OBRIGADA aos nossos Capitães, por nos fazerem acreditar que é possível, que será sempre possível, basta acreditar.

                                                                         Nunca caminharemos sozinhos, nunca estaremos sozinhos, haverá sempre alguém que nos segura a mão, para que juntos possamos dizer 

                                                     25 de Abril Sempre 


                              Foi bonita a festa Pá


  

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Arte de conseguir mandar a merda

"Agora bebe tu, fofinho" foi esta a frase que eu ouvi ao chegar as esplanada, uma voz suave, uma voz de amor, ternura de uma  mãe, o que me levou a virar ao rosto, de encontro a essa mãe ou avó, mas tudo o que vi foi uma senhora, agarrada a um cão de peluche vestido com uma roupinhas, essa senhora fazia festas no seu boneco, falava com ele, para que bebe-se o seu refresco. Posteriormente desembrulha alegremente um livro infantil, que tinha comprado  e começa a ler em voz baixa a historia ao seu amigo.

Perante isto não pude deixar de sentir uma ternura imensa, o carinho, o amor com que aquela pessoa tratava o seu amigo, como se fosse um filho é inexplicável. Notava-se  que era uma pessoa culta, pois a uma questão colocada em inglês ela respondeu num inglês perfeito, a forma como lia corretamente, como estava vestida, o meu cérebro levou-me imediatamente para uma possível professora com algum esgotamento.

Onde é que falhamos como sociedade quando não assumimos que a saúde mental é um problema grave, e que pode afetar qualquer um de nós ?

Onde é que falhamos como pessoas ,quando assobiamos para o lado, rimos , fazemos troça , de pessoas que estão mentalmente debilitadas ?

Porra, como é que não nos podemos deixar de  questionar, como é que se chega a este limite, aquela senhora não estava triste, estava feliz , feliz porque vive num mundo dela, esta fechada dentro da sua própria caixinha, foi comovente ver como estava feliz a ler uma historia de um livro infantil a um peluche. É uma pessoa que esta fechada num universo paralelo, eu até tenho medo de pensar o que pode acontecer se algum dia, esse universo único parar, e ela sair cá para fora.

Quantas vezes não temos pessoas que nos são próximas e que nos dão pequenos alertas, mas nós nas nossas vidas sempre aceleradas, não paramos e olhamos e não nos apercebemos que há algo que não esta bem? é que nem todos tem capacidade para grita por ajuda, muitas vezes é um grito mudo, um falar sem som.

Quantas vezes não nos sentimos tristes, a beira de um abismo sem perceber como ali chegamos 

Não podemos ter medo de pedir ajuda, não podemos não deixar de ajudar, como sociedade que somos, temos essa obrigação, a  de estender a mão, exigir que se faça algo mais, quer nos locais de trabalho quer nos centros médicos

Ou simplesmente podemos cultivar a arte de mandar foder, de mandar a merda sem medos,  mesmo os nossos, as vezes é dentro da própria família que vem o desinteresse, porque por mais que se possa sorrir, quantas vezes esse sorriso não esconde uma realidade que ninguém quer ver?

Eu aprendi arte de mandar a merda, arte de mandar foder  e assim acabo por afastar as nuvens negras, alturas houve em que estive a um passo de caminhar para esse abismo, mas o fato de ter uma personalidade forte, a que juntei a decisão de dizer BASTA, fez com que nunca me aproximasse desse abismo.

Não há duas pessoa iguais não há formas certas ou erradas, por isso temos de estar atentos aquém nos rodeia, para que consigamos alcançar antes de caírem nesse abismo. 

Devíamos criar mecanismos vários, para que todos os que queiram, possam também elas aprender arte de mandar a merda, porque a Saúde Mental é de uma importância enorme, porque a doença mental existe 



Isto nem para coser meias esta bom...

A pessoa tenta colocar uma linha na agulha, e já não passa sem por os óculos, e pensa porra, não esta mesmo de feição. Sendo assim vamos lá ...